Cripto e Inflação: Um Hedge Contra a Desvalorização?

Cripto e Inflação: Um Hedge Contra a Desvalorização?

Em um mundo onde a inflação corrói o poder de compra, investidores buscam alternativas para proteger seu patrimônio. As criptomoedas surgem como protagonistas nesse debate, prometendo oferecer segurança em face da desvalorização monetária.

Este artigo explora pesquisas, dados e opiniões de especialistas para entender se o Bitcoin e outras criptos são, de fato, um hedge confiável contra a inflação ou, na verdade, um barômetro de liquidez global.

Contexto Global da Inflação

As projeções do Banco Mundial indicam um crescimento econômico global de 2,6% em 2024, abaixo da média histórica. A inflação global está estimada em 3,5% para 2024 e deve cair para 2,9% em 2025.

No entanto, o cenário permanece vulnerável a choques geopolíticos. Após a pandemia, a adoção de política monetária expansionista levou à emissão massiva de moeda, criando efeitos inflacionários persistentes e distorcendo a estrutura econômica.

O que é um hedge inflacionário?

Um hedge contra inflação visa preservar o valor real do capital frente ao aumento dos preços. Tradicionalmente, ativos como ouro desempenham esse papel, mas com correlações muitas vezes inconsistentes.

No caso das criptomoedas, o argumento central é a oferta limitada e a descentralização, que as imunizam de políticas de impressão de dinheiro.

Bitcoin: Oferta limitada e descentralização

O Bitcoin possui oferta limitada de 21 milhões de unidades. Essa característica confere escassez programada, similar ao do ouro.

Além disso, sua estrutura descentralizada evita a manipulação direta por bancos centrais, teoricamente protegendo-o contra a inflação gerada pela emissão excessiva de moeda fiduciária.

Estudos e Pesquisas sobre Cripto e Inflação

Diversos estudos analisam a correlação entre Bitcoin, inflação e juros:

  • Universidade de Cambridge (2020): encontrou correlação negativa entre Bitcoin e inflação.
  • Bloomberg (2022): indicou correlação positiva com a taxa de juros — quando os juros sobem, Bitcoin tende a valorizar.
  • NYDIG (2025): revelou que a correlação é fraca e inconsistente, posicionando o Bitcoin como barômetro de liquidez, não como hedge.

Debate: Hedge ou Barômetro de Liquidez?

Defensores argumentam que, em cenários de inflação alta e instabilidade monetária, o Bitcoin protege o poder de compra. A adoção crescente por investidores institucionais reforça essa tese.

Por outro lado, críticos apontam a volatilidade elevada e riscos regulatórios, além da influência de fatores especulativos. A correlação do Bitcoin com ativos de risco tende a aumentar em crises financeiras.

Outras Criptomoedas e Stablecoins

O Ethereum é citado como alternativa para proteção, mas também sofre com flutuações de mercado. Já as stablecoins mantêm paridade com moedas fiduciárias, oferecendo inclusão financeira e proteção.

No Brasil, mais de 90% do volume de cripto está em stablecoins, usadas para remessas internacionais e como reserva contra a depreciação do real.

Adoção na América Latina

Em 2025, 57,7 milhões de pessoas (12,1% da população) detêm criptomoedas. Fatores como alta inflação, volatilidade das moedas locais e acesso bancário limitado impulsionam essa adoção.

Estratégias de Investimento e Riscos

Para quem busca proteção contra inflação, recomenda-se:

  • Perspectiva de longo prazo, para suavizar oscilações bruscas.
  • Diversificação da carteira, combinando cripto com ativos tradicionais.
  • Riscos calculados e estudo contínuo do mercado.
  • Acompanhamento de mudanças regulatórias e fluxos de capital.
  • Entender que a volatilidade pode gerar ganhos e perdas expressivos.

Dados Essenciais

Tendências e Projeções para a América Latina

O mercado de criptomoedas na região deve crescer a uma taxa anual composta (CAGR) de 10,93% até 2033.

Plataformas DeFi podem alcançar US$ 18,3 bilhões em 2030 (CAGR de 52,9%). O Bitcoin, em especial, tem expectativa de atingir US$ 150.000 em 2025, impulsionado pelo halving que reduz a oferta de novas moedas.

Opiniões de Especialistas

Raoul Pal, ex-executivo do Goldman Sachs, chama o Bitcoin de “opção de call sobre o futuro do dinheiro”.

Greg Cipolaro, da NYDIG, reafirma que o ativo serve como barômetro de liquidez global, mas não como um hedge confiável.

Eduardo Mira, analista CNPI, aconselha usar o Bitcoin como reserva de valor apenas por quem compreenda altos riscos e volatilidade.

Conclusão

Embora o Bitcoin apresente características atrativas para combater a desvalorização monetária, sua correlação com liquidez e taxas de juros o posiciona mais como indicador de fluxo de capital do que como instrumento infalível contra a inflação.

Outras criptomoedas e stablecoins complementam a estratégia, mas é essencial adotar uma visão integrada e diversificada, aliada a pesquisa rigorosa e tolerância ao risco.

Em última análise, criptomoedas podem fazer parte da proteção patrimonial, porém exigem conhecimento profundo e planejamento cuidadoso.

Por Giovanni Medeiros

Giovanni Medeiros